Heinrich von Kleist, Poeta Trágico
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O Trágico nas Obras de Kleist: 1. As Novelas
[p. 195] Sabemos qual o fulcro do trágico kleistiano: o constante e corrosivo conflito da razão com a existência, do Entwurf lógico, retilíneo, com o absurdo e inesperado da realidade; da postulação de propriedade segura e eterna com a condenação à destituição, desamparo e insegurança do circunstancial; da ambição do comportamento segundo um cânone firme com a impossibilidade de adesão a uma regra que se revela insuficiente, ou a regras que se mostram contraditórias perante as múltiplas situações da existência.
É este conflito que estrutura a sua vida, como tentamos indicar, e é este o conflito que configura a obra kleistiana como núcleo integrativo de todos os pormenores da sua contextura.
Tentaremos mostrá-lo seguidamente, começando pelo estudo das novelas. Pergunta-se: em que diversas mas recorrentes circunstâncias se desenha esta incomensurabilidade trágica no mundo das obras narrativas e dramáticas de Kleist?
Observa-se que o indivíduo trágico no mundo de Kleist acede à tragédia através da culpa. O problema da culpa está, como se sabe, desde há muito vinculado ao problema do trágico. Conhecem-se as várias teorias que, desde a redescoberta da Poética do Estagirita, cercaram a questão da culpa, do erro trá- [p. 196] gico, da ἁμαρτία; e já há muito se concluiu que só a culpa metafísica é própria da tragédia. A pura infração moral ou jurídica não se qualifica como trágica. O ato de um criminoso não é trágico enquanto for considerado como opção deliberada por algo que é contrário ao cânone ou lei. O seu consciente antimoralismo ou antilegalismo situa-se fora do círculo trágico. Só o schuldlos-schuldig, o inocente-culpado, tem investidura trágica. O criminoso pode, à luz de determinada visão, adquirir a dignidade trágica: mas desde esse momento deixa de ser criminoso aos olhos de quem o vê como vítima de culpa transcendente, como inocente-culpado. O homem trágico não tem culpa, todavia é culpado, ou não é culpado e todavia tem culpa. O exemplo clássico mais significativo do herói trágico é o de Édipo. Édipo torna-se culpado, a seus olhos e aos de toda a humanidade; contudo, na medida em que a sua vontade é ancilarmente requisitada, serve uma intenção inocente. Os crimes de Édipo só o são a posteriori, após o conhecimento de uma situação primária e ignorada que a posteriori os estigmatiza. Antes de toldado pela tardia revelação, o seu comportamento é conforme com a mais imune intenção moral. E o primeiro momento trágico é a culpabilização do inocente, uma das mais flagrantes manifestações do destino irredutível e aniquilador da fraqueza humana. Essa culpa transcendente e imposta subreptícia e ardilosamente ao homem é a situação por excelência da tragédia grega e europeia.
O homem trágico, vencido por adversário de suprema força que não usou de jogo franco, o homem ludibriado pelos poderes transcendentes e destinais é todavia ainda o que ousa lutar com eles, é o herói trágico. A luta e resistência ao destino constitui para Max Scheler o segundo momento configurador do trágico e a sua ausência no drama naturalista, a seus olhos, determinou a falência no domínio da tragédia, como, a propósito de Ibsen, o demonstra em brilhante análise dos Espetros e da figura de Oswald Alving, o herói não-heroico — Max SCHELER (1915) Zum Phänomen des Tragischen, Vom Umsturz der Werte. Abhandlungen und Aufsätze, Weisse Bücher, Leipzig —. Parece-nos, contudo, que este momento não é imprescindível e condição sine qua non da manifestação do trágico; pode ou não ocorrer sem que a [p. 197] sua ausência invalide a primeira qualificação do trágico que já apresentamos. Mas atentemos agora no que se passa no mundo kleistiano.
Desde já podemos afirmar que aí o segundo momento, o agónico, ocorre sempre como intensificação do primeiro. Em que condições ambos se afirmam é o que importa determinar, e, para isso, é necessário verificar como se manifestam as forças transcendentes que inculpam o indivíduo e contra as quais ele se revolta. No modo específico dessa manifestação reside a diferença insuperável e intransponível dos diferentes mundos trágicos. É a diferença nas manifestações que os carateriza como únicos, e a recorrência monótona das mesmas adentro de cada obra é simbólica da sua mais funda matriz.
No mundo das novelas de Kleist a manifestação das forças culpabilizadoras, traiçoeiras e malignas, cabe geralmente às circunstâncias exteriores que envolvem o herói: são a armadilha, a cilada, a emboscada onde este se perde. Nas novelas, surpreendentemente, as circunstâncias promotoras do trágico são, além do equívoco que oportunamente examinaremos, a imoralidade da sociedade, a imoralidade dos outros, de todos aqueles que procedem segundo os seus instintos e paixões iníquas com implacável egoísmo. São os outros que provocam a culpa do herói. Isto depreende-se com persuasiva nitidez, por exemplo, da história de Michael Kohlhaas, o homem justo e cumpridor que, vítima de uma injustiça e para que justiça lhe fosse feita, se envolve em crime e rebelião: «einer der rechtschaffensten zugleich und entsetzlichsten Menschen seiner Zeit» – «um dos mais justos e também dos mais terríveis homens do seu tempo». Se rememorarmos o encadeamento dos entrechos das novelas, iniludivelmente sobressai a função trágica da imoralidade dos outros: Michael Kohlhaas é a história, passada no tempo de Lutero, de um honrado e pacífico negociante, espoliado de dois dos seus cavalos. Como lhe não tivesse sido concedida a justa indemnização, deixa-se progressivamente obcecar, após vários desgostos que a demanda lhe ocasiona, pelo desejo de fazer justiça por próprias mãos. Assim, de tentativa em tentativa de desagravo, chega a levantar um pequeno exército e a incendiar [p. 198] uma cidade; até que finalmente, por intervenção de um príncipe equânime, lhe é feita a justiça que almejava; depois, com a sua serena aquiescência, foi entregue ao tribunal imperial acusado de crime contra a paz do império e por essa culpa condenado à morte
Atentemos agora em Der Findling. Piachi foi o benfeitor de Nicolo, que adotou por filho e a quem cumulou de benesses. Este, licencioso e perverso, acumula desobediências e vilezas sucessivas que culminam com a frustrada tentativa de desonra da mãe adotiva e, após a morte desta, com a expulsão de casa do velho Piachi. Este então mata-o e entrega-se à justiça que o condena à forca.
Em Die Verlobung in Sankt Domingo, O Noivado em Santo Domingo, não é tão clara a relação entre a maldade dos outros e o crime do herói, porque só indiretamente ela o determina. Gustav, que sem o saber pede hospitalidade em casa de Babekan, mulher de Hong-Koang, o mais impiedoso chefe dos revoltosos de Santo Domingo, enamora-se de Toni, filha de Babekan que, transfigurada pelo amor, se converte de insensível agente de sedutora perdição em sua salvadora. Congemina esta um plano que os salvará mas de que Gustav (à semelhança de Penthesilea) só vê a aparência de traição necessária para o levar a cabo. No momento da libertação, Gustav dispara sobre Toni e mata-a. Assim é a real traição da casa que o hospedara, e o que se conta das torpezas cometidas na ilha, que deram a Gustav a descrença dos sentimentos humanos e indiretamente provocaram a sua culpa e desgraça.
Em Das Erdbeben in Chili, também é o orgulho egoísta de casta que contraria o amor de Jerónimo, o precetor, e Josephe, filha de nobres, e ocasiona os primeiros infortúnios seguidos da injusta e severa punição do crime que lhes imputam. E no desfecho, após a intervenção aparentemente salvadora do terremoto, que os liberta do cárcere e do cadafalso, é a superstição cega e cruel da multidão que atrozmente os mata.
Em Das Bettelweib von Locarno, a mais curta novela de Kleist, e decerto uma das mais estranhas histórias de sobrenatural da literatura, o fantasma da mendiga maltratada, vítima da falta de caridade do castelão, aparece de noite no castelo e finalmente inspira tal terror que causa a morte deste; a vingança para lá da morte, que já Piachi, herói do Findling pretendia, é um [p. 199] motivo que se acentua nos últimos contos de Kleist. Outra vingança sobrenatural é o fulcro da Die Heilige Cäcilie oder die Gewalt der Musik, onde os blasfemos que intentam cometer um sacrilégio são punidos – em benigna vingança da santa – no momento em que se dispunham a consumá-lo.
As restantes duas novelas, Die Marquise von O., a primeira novela de Kleist, e Der Zweikampf têm um desfecho feliz e o conflito trágico, que todavia constitui o seu fundo, desenha-se com menor nitidez e apresenta a diferença fundamental da isenção de culpa do herói. A função dos outros é também funesta e motiva o drama das heroínas, que se desenrola em ameaçadora expetativa de catástrofe, só no final transformada em happy ending. Em Die Marquise von O., o ambiente é menos carregado, e a revelação de que o desconhecido pai do filho da marquesa era o seu noivo não nos surpreende, nem o perdão e final harmonia. Já em Der Zweikampf é de novo a maldade, mas também o equívoco, que origina a calúnia difamadora da virtude de Frau Littegarde, defendida com incólume crença pelo cavaleiro seu noivo no torneio do «juízo divino», mas por fim a ambiguidade do estranho veredito é explicada, bem como a falsidade da acusação, e a heroína reabilitada, terminando a história com a celebração das suas bodas. São estas as duas únicas clareiras na obscuridade trágica das novelas de Kleist.
A iniquidade dos outros, provocadora dos males que recaem sobre o herói, assume constantes e idênticos aspetos: é sempre imoralidade ou ilegalidade derivada da violenta prevalência dos instintos egoístas e paixões indomadas. Pode parecer deste modo enfraquecida a severidade trágica da visão, destituída da sua caraterística inelutabilidade. Não haverá mesmo alienação do trágico no vislumbre possível de regeneração da humanidade, através de uma moral de imperativo categórico? Sabemos, pelo testemunho das cartas, que o imperativo kantiano não deu a Kleist a solução ao problema moral; o ato resultante desse imperativo era praticamente falível nas consequências benéficas para as relações entre os homens, independentemente da problematicidade na determinação de um imperativo universal. Sabemos, pelo testemunho das cartas, que foi este o angus- [p. 200] tioso problema de Kleist. Mas não estará expresso ou implícito na obra?
O que verificamos não permite afirmar que, na efabulação das novelas de Kleist, se manifesta a falibilidade do ato moral, conducente à perplexidade última do «Was ist böse? A b s o l u t b ö s e ?» (carta de 15.08.1801). Esta suprema dúvida em relação à eficiência e validade do ato moral não parece ocorrer no horizonte das novelas. Não é considerada a hipótese da regeneração possível dos outros com auxílio de uma norma moral adequada. A maioria dos homens é apresentada como iníqua e imoral, porque não age sequer segundo a imposição de uma norma; parece inferir-se que a porventura viável alteração desse estado de coisas evitaria o trágico, ou pelo menos não é demonstrada, por via racional, a sua inevitabilidade, mantendo-se a hipótese de que as circunstâncias portadoras do trágico – ou seja a malignidade dos outros – deixariam de o ser se estes procedessem moralmente. Mas se racional e condicionalmente assim é, e se nas novelas não é posta à prova a inutilidade da lei e, pelo contrário, fica em aberto a questão da garantia que a lei poderia ou não trazer abolindo a iniquidade dos outros, por outro lado temos de reconhecer que o trágico não é decisivamente comprometido, porque, se não chega a ser problematizado o valor teórico e prático do imperativo, é-lhe por convicção amarga retirada intuitivamente a universalidade prática da aplicação.
Para aquém da problemática eficiência, Kleist manifesta implicitamente a descrença na capacidade de os homens se comportarem todos segundo as exigências de uma ética severa. A maldade dos outros é algo tragicamente incorrigível. Não podemos contudo deixar de reconhecer nesta aceitação de irredutibilidade, alheia à tentativa racional de redução, uma manifestação menos intensa e pura do trágico.
Este enfraquecimento, porém, é compensado por outros fatores determinantes do trágico, ou seja, outras modalidades de ação destinal que não mencionamos. Referimo-nos especialmente à função do acaso. As peripécias que resultam do entre- [p. 201] cruzar-se das ações e acontecimentos são tão responsáveis da culpabilidade do herói quanto a vilania dos outros. E aqui se apreenderá, melhor do que na aceitação da maldade humana, a tonalidade caraterística do conflito trágico original. Investiguemos, pois, como se introduz o acaso na contextura dos entrechos kleistianos. Staiger, em Meisterwerke deutscher Sprache aus dem 19. Jahrhundert, 1943, afirma que a caraterística do acontecer no mundo em que se desenrola Das Bettelweib von Locarno e as outras narrativas é a «consequência» e a «funcionalidade dramática». Encontram-se, por exemplo, na parcimónia descritiva dos indivíduos e dos objetos, caraterizados em poucos traços imprescindíveis, sem nunca sucumbir a uma solicitação de demora complacente. A funcionalidade das peripécias no todo da narrativa e a sua rigorosa subordinação são interpretadas como atitude predominantemente discursiva e lógica e com todo o fundamento; somente é necessário acentuar que se trata de uma relação consecutiva e não causal. Há uma férrea cadeia de nexos de que todos os elos se conhecem, mas que não se encontram uns para com os outros na relação de causa a efeito, embora mantenham entre si uma estreita interdependência. Acontece assim que o encadeamento dos sucessos é quase sempre surpreendente e caprichoso. O suceder kleistiano é inesperado e imprevisível, embora nada seja fortuito, pois todos os nexos desse acontecer são determinados. Mas é a intersecção de todas as cadeias de acontecimentos, necessários na sua relação, que gera nos pontos de tangência a ocorrência estranha, incomensurável com as suas causas, e por esse motivo revestida de aparência do acaso. O acaso não é indeterminação nem insubordinação entre o acontecer: o acaso é superdeterminação, é entrechoque de diversas interdependências. É desta forma que o acaso se insinua no mundo tão consequente e articulado pela razão. E é assim que ele se torna fator decisivo do trágico e significativo exemplo da oposição entre a razão e a existência, juntamente com a perversidade dos personagens que rodeiam o herói.
Há nas novelas outro domínio, tão significativo como este, da presença do conflito trágico determinando e configurando os [p. 202] aparentemente ínfimos pormenores constitutivos do mundo das suas novelas: considerando-as em conjunto, descobre-se, com efeito, a flagrante recorrência de certos motivos; entre eles sobrelevam, pela frequência com que ocorrem e pela sua importância simbólica, os da profanação, da violação, da vingança, do contágio. Todas estas situações ou motivos que, como constelações circunstanciais recorrentes, descobrem um emocional e intuitivo processo anímico e trazem uma contribuição hermenêutica indispensável à interpretação total, revelam todas uma caraterística idêntica: são situações extremas, situações-limite na ordem moral. A interpretação dos motivos, imagens reveladoras da caraterística una e singular de Kleist, é melindrosa e difícil. Não se encontra diretamente espelhado com nitidez o conflito trágico. A relação entre tema e motivos é oblíqua e envolta em pouco transparente simbolismo. O que significa a impressionante insistência de Kleist na apresentação de casos de violação da honra feminina, enfaticamente acompanhada da estranha ignorância da vítima da profanação? Em Die Marquise von O. temos o exemplo mais completo e flagrante; em Der Zweikampf o enredo gira em torno de falsa suspeita que, reunida à ocorrência real, configura idêntica situação; em Der Findling, o iminente ato de Nicolo, que o regresso imprevisto de Piachi impede, ameaça provocá-la; e desde já, para sublinhar a frequência do motivo, nos antecipamos ao estudo do drama e assinalamos a sua presença em Amphytrion, e até uma sua variante, o adultério, surge em incrustação aparentemente irrelevante e modesta em Das Käthchen von Heilbronn (nascimento de Käthchen) e em Penthesilea (origem do reino amazónico).
Que é possível inferir da múltipla e multiforme apresentação deste motivo? Que significado trágico se discernirá no sentido de profanação que contém e comparticipa com o outro motivo frequente e paralelo do sacrilégio e violação de lugares sagrados? Este, menos estranho e mais infrequente, está também representado em várias novelas: em Die Heilige Cäcilie oder die Gewalt der Musik, onde é o acontecimento central – fulcro da narrativa; em Das Erdbeben in Chili no desrespeito da austeridade casta [p. 203] do jardim do convento, que provoca a condenação à morte dos dois amantes, e ainda em diversa e menos extrema modalidade na violação dos deveres de hospitalidade em Die Verlobung in Sankt Domingo.
Que as situações são estranhas, violentas, singulares e manifestam um significado comum de profanação, verifica-se quase ao primeiro relance, e intuitivamente se alcança a sua íntima dependência na esfera do trágico kleistiano. Na profanação, violação ou sacrilégio, patenteia-se uma ambiguidade e um conflito; e simultaneamente uma afirmação e uma negação; afirmação implícita na própria negação. Esta não é eficiente porque denuncia a sujeição do que se pretende libertar. O ato sacrílego ou profanador reconhece pelo próprio ato de destruição o valor e a força do que ofende e tenta destruir. E não será assim o reflexo de uma reivindicação apaixonada e fracassada da razão contra a irracional sujeição em que se encontra? Ou, ainda, o sinal do embate do imprevisível absurdo e iníquo com as determinações respeitáveis, dignas, sagradas, da razão? Uma e outra interpretação se nos afigura possível e adequada. Tanto mais quanto o indiscutível momento conflituoso de ambos atesta em diversas proporções um desenho idêntico ao que carateriza as coordenadas da sua obra.
O motivo de vingança é representado em todas as obras narrativas de Kleist, sem exceção. Em Michael Kolhaas, em Der Findling, em Die Verlobung in Sankt Domingo, em Das Erdbeben im Chili, em Der Zweikampf, em Das Bettelweib von Locarno, e até na lenda do milagre de Santa Cecília, pois nem mesmo os santos se recusam, como outrora os deuses pagãos, ao prazer da vingança no universo kleistiano. Na vingança depara-se uma situação tão ambígua e paradoxal quanto a da profanação. A vingança é força e fraqueza: porque se é força não sucumbir ao mal, é fraqueza vencer quem o infligiu, imitando-o; é revolta exigida pela razão para restabelecer o seu perdido equilíbrio, mas é frustração simultânea, porque em vez de o restabelecer, corrobora-o.
Manuela de Sousa Marques
MARQUES, Manuela de Sousa (1951) Heinrich von Kleist, poeta trágico, Revista da Faculdade de Letras, Lisboa, S. 2, t. 17, n.º 1, 185-220.
Revisto pela Autora em 2008.
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[continua em O trágico nas obras de Kleist: 2. O drama]